Bom, depois de ler alguns contos tomei coragem para narrar uma pequena
experiência sobrenatural que tive no início de minha adolescência. O
fato que passo a narrar é inteiramente verídico, porém, a crença na sua
verdade pode não ser aceita por todos.
Era inverno e a nossa excitação era intensa. Estávamos nos mudando para
uma nova casa, em uma cidade diferente da que havíamos morado nos
últimos anos. Eu estava com doze anos e via meus pais e irmãos
encaixotar nossas coisas alegremente. Nossa nova residência era um
casarão antigo muito maior que a casa em que morávamos. O terreno era
enorme e possuía um bosque com árvores frutíferas, um velho paiol e até
um pequeno olho de água.
Nossa família era grande e composta de nove pessoas. Meu pai, minha mãe e
sete irmãos sendo duas mulheres e cinco homens. Chegamos à nova casa e
nos acomodamos da melhor forma possível. Eu dividia o meu quarto com meu
irmão mais novo e passávamos o dia brincado e explorando o local.
Tudo ia bem em nossa nova residência até o dia que começamos a escutar
sons estranhos. De nosso quarto ouvi, no meio da noite, murmúrios. Algo
como leves sussurros que lembravam a voz de crianças brincando. Acordei
meu irmão para que ele ouvisse aquilo. Ele despertou e também escutava o
som de crianças brincando na nossa sala e no grande corredor que ligava
os quartos. Em nossa família não existiam mais crianças que pudessem
estar ali. Apavorados nos abraçamos e ficamos ouvindo aqueles sussurros.
A noite foi passando e aos poucos o som foi parando e , apesar do medo,
adormecemos vencidos pelo sono.
No dia seguinte contamos a história para nossos pais e irmãos, porém
todos disseram que havíamos sonhado e nada daquilo tinha sido real. Nas
próximas noites continuamos a ouvir os barulhos. Com o passar dos dias
os sons foram ficando mais altos, mais nítidos. Parecia que as crianças
corriam pelo corredor, rindo e brincando. Às vezes algumas batiam com as
mãos na porta de nosso quarto, fazendo eu e meu irmão darmos pulos de
susto. A madeira antiga rangia com os passos acelerados no corredor. Eu,
sendo mais velho tentava disfarçar o medo para não assustar o meu irmão
que chorava sem parar.
No corredor, ouvia – se as crianças rindo, gritando, a madeira do piso
estalava com os pequenos passos das crianças. Tomado por uma súbita
coragem me dirige até a porta e coloquei a mão na fechadura com a
intenção de abri-la, porém, tapas e socos na madeira da porta
extinguiram a minha valentia. Decidi olhar pela fechadura e ver o que
estava acontecendo em nosso corredor. Me abaixei , tirei a chave e
coloquei o olho no buraco . Então, vi um vulto negro e um assopro
atingiu o meu olho me trazendo arrepios na espinha. Tive calafrios.
Nunca uma sensação havia dominado o meu corpo dessa forma. O terror era
intenso. Corri para a cama e fiquei orando, pedindo que aquilo parasse.
Os barulhos continuaram até o dia amanhecer, cessando com os primeiros
raios de sol que iluminaram a casa.
Na manha seguinte, assim que ouvimos o som dos quartos se abrindo e a
voz de meus pais , saímos do quarto e ,com a família reunida, contamos o
que havíamos passado. Desta vez , para nossa surpresa ,outros de nossos
irmãos disseram que também haviam ouvido o barulho. Meus pais se
olharam de forma estranha. Apesar de no momento não admitirem eles
também escutaram a algazarra noturna.
Neste mesmo dia meu pai foi investigar quem eram os proprietários
anteriores do casarão e descobriu que antigamente a casa tinha sido
habitada por uma família composta por um pai viúvo e quatro crianças.
Este senhor, devido a um momento de loucura gerado pelas saudades de sua
esposa e a falta de emprego havia assassinado todos os seus filhos. Ele
fora preso e posteriormente morrera na prisão.
Os espíritos das crianças continuaram na casa, a assombrando e brincando todas as noites.
Logo nos mudamos e nunca mais ouvimos falar do velho casarão. Porém
esta experiência marca a nossa a vida até hoje. As vezes o som da
madeira rangendo me traz as lembranças do acontecido naquele inverno e
um calafrio percorre a minha espinha.
Conto recebido por e-mail.
Autor: Silas Dias.
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